sexta-feira, 28 de março de 2014

Quintal



Quintal é uma daquelas palavras que gosto. Não sei muito bem porquê. Se pelo som que ela tem, se pelo sol que bate ali - naquele cantinho onde é gostoso ficar de pé descalço pisando na grama. Ou se pela saudade que a palavra dá do cheiro de café preto e forte recém passado. De olhar prá cima, lá no céu, e ver aquele monte de nuvenzinha branca correndo solta numa pressa que não tem urgência de chegar. Gosto da combinação do quin com tal. Sinto aconchego, saudade e o calorzinho do sol. Quintal é infância. É o pedaço de vida que a gente sente mais falta. Quintal é vó, é gritaria de criança, é banho de mangueira. Quintal é escalar o muro, subir na árvore, se embalar num balanço de corda com o corpo bem esticado prá trás e sentir as pontas dos cabelos pincelando o chão. É sorriso, é brinquedo, proteção. É nosso pequeno reino onde a gente comanda, inventa e decide qualquer brincadeira. É pé sujo de lama se chove, é pito de mãe mandando a gente entrar correndo, é zombaria. Quintal é piquenique, é casa de boneca, é futebol - mesmo sem saber jogar. Quintal é casca de bergamota espalhada e sementinha plantada no sonho de que cresça um pé cheinho delas. Quintal é cachorro grande, é passarinho, gato no muro e formiga que morde o pé. Dói, arde, mas passa. Passa logo e volta a correr, pisar na grama e ser rei daquilo tudo. Quintal é um pouco de tudo ou tudo de tantas poucas coisas. Histórias, aventuras, memórias. Joelho ralado, sorriso rasgado, beijo roubado. Quintal é isso e eu gosto do som que ele tem.





3 comentários:

  1. Como diz a música: o mundo livre que não deixa inventar; a fantasia que promove o temporal; e a calmaria plena no meu quintal... lindo texto!!

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