sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mundo Paralelo



A janela fechada cela um mundo paralelo. Elo.

A meia luz do abajur de recanto traz um aconchego que está tão longe de toda chuva que insiste em cair lá fora. O frio, de vento gelado, fica do lado de fora da janela. A fumaça fininha do incenso perfuma o ar, desenhando em cada canto o aroma de coisa boa a se sentir. Tem um som bom de se ouvir inundando a sala, o sofá, as almofadas espalhadas de uma forma bagunçada que ali não incomoda, acomoda. Uma garrafa de vinho, pela metade, no chão encheu uma, duas, três, quantas taças a perder a conta. O rosto aquece, o coração respira leve, e a pele fica muito mais sensível a todo toque, carinho. As risadas se misturam à música, que insistente, segue a tocar. Uma lista de canções que, sem querer, traduzem um pouco de cada coisa acontecida, cada sensação sentida, cada lembrança trazida, de olhos fechados e com o danado do sorriso ali, bem no cantinho direito da boca. Cobertor de lã aquecendo os pés e bem longe do rosto rubro, quente, que o vinho trouxe. A música toca mais uma vez, o coração se enche de novo e inquieto, salta do peito. As mãos, sem saber muito o que fazer, insistem num nervosismo, num suadouro, procurando onde repousar. O vinho, abusado, se mete a encher mais uma taça, até a boca, sem refino, sem bons modos. A risada alta atropela a sensação do que virá, no ar. O frio? Insistente, mais ainda do lado de fora da janela. O toque é próximo, a respiração que se escuta, os olhos que insistem em desviar do olhar. O perfume do incenso, que mesmo já apagado, insiste em permanecer no ar. O último gole, um bom vinho prestes a terminar. Um empurrão, um incentivo. Instante de silêncio até a próxima canção a ser escolhida e quase deixada de lado, esquecida. Adoração. Proximidade. Eternidade. Respiração. Mãos que se encontram. Lábios. Rosto. Coração.

Dia que passou, tarde que chegou, já foi embora e é ela noite. Sem ver, sem perceber. O Frio? Esse ficou de vez do lado de fora da janela.









Um comentário:

  1. "Dá-me mais vinho, porque a vida é nada" (acho que foi o Pessoa quem disse isso :P )

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