quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Overdose do Silêncio


Overdose do silêncio
Ironia provocada
Caminhada estagnada
Noite antes acalentada
Vozes e violas caladas
Cervejas e tábuas congeladas
Cortina devassada
Para a vista que hoje é nada

Talentos reprimidos
Sonhos ressequidos
Capitais desaparecidos
Ideais inibidos
O suposto maestro falhou e o palco acabou 

Cala o canto, os aplausos, os latidos que gritavam
Cala o canto, os aplausos, os latidos que gritavam

Ela disse - Peraí! Vamo fazer um refrão!
Ela disse - Peraí! Vamo fazer um refrão!
Ela disse - Peraí! Vamo fazer um refrão!
Ela disse - Peraí! Vamo fazer um refrão!

A máscara cai, a cortina fecha, tudo vem ao chão








Camila Sequeira


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

doce alexitimia talvez

Estrada incerta
Olhos alerta
Sentimento acerta
Coração aperta
Beijo desconcerta
Boca esperta
Pele desperta
Noite deserta
E o corpo acoberta
Todas venturas e aventuras que vem com você

Simples, leve, descoberta. 











domingo, 22 de junho de 2014

Apenas seja




Benção maior é poder viver com vontade, genuinamente, até que se esgote cada dia que começa, se põe e anoitece para que um novo volte a nascer para o nosso incansável deleite, muitas vezes, egoísta de que não se acabe. Viver tanta coisa em pequenas coisas. Viver tantas vidas em diversas gentes. Viver tantos cheiros, perfumes, tantos gostos, sabores, tantas sensações e quereres,  poderes e não poderes que querem poder pelo simples querer de querer ser assim. De querer bem pelo simples fato de se sentir feliz. Sensação boa de ser livre, de ir para onde se quer ir, onde se quer estar, ficar, ali, aconchegado. Vida é se jogar lá de cima, sentir a brisa no rosto e sorrir, se rir, de cada sensação boa que se sente no ar, solta, voa leve É relaxar, se deixar fluir, se permitir embalar. Dar risada de cada embalo, de cada impulso, de cada tropeço, que não devia se chamar tropeço, devia sim, chamar um novo dia para se fazer dum outro jeitinho, do jeito que se quer, sem erro e sem acerto, mas certeiro pelo simples fato de tentar.

Felicidade? Está em cada tentativa, em cada tropeço tropeçado e que tem um valor e tanto, lições e aprendizados que só se aprendem caindo, ralando o joelho e crescendo, evoluindo. Vendo ali, naquela cicatriz de joelho ralado, que não é feio cair, é feio ter medo, é feio não jogar, não correr, não se lançar, se permitir. A felicidade já está ali, no impulso que se dá, na bola que se toca para frente, no querer ver no que vai dar. Felicidade é simples. Vida é simples. Nas pequenas coisas. Felicidade é vida que se vive com a graça de se viver e não de simplesmente se querer viver. Tudo, tanto e até se esgotar. Com todos os tombos, sorrisos frouxos e deleites...estes sim, valiosos quando sentidos da forma mais simples, pura e genuína. Permitir, sentir e saborear a delícia que tem cada sensação, cada toque, cada batida que o coração dá. Ser e não imaginar como seria se fosse. Seja, apenas seja. É um presente lindo que a gente se dá.









sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mundo Paralelo



A janela fechada cela um mundo paralelo. Elo.

A meia luz do abajur de recanto traz um aconchego que está tão longe de toda chuva que insiste em cair lá fora. O frio, de vento gelado, fica do lado de fora da janela. A fumaça fininha do incenso perfuma o ar, desenhando em cada canto o aroma de coisa boa a se sentir. Tem um som bom de se ouvir inundando a sala, o sofá, as almofadas espalhadas de uma forma bagunçada que ali não incomoda, acomoda. Uma garrafa de vinho, pela metade, no chão encheu uma, duas, três, quantas taças a perder a conta. O rosto aquece, o coração respira leve, e a pele fica muito mais sensível a todo toque, carinho. As risadas se misturam à música, que insistente, segue a tocar. Uma lista de canções que, sem querer, traduzem um pouco de cada coisa acontecida, cada sensação sentida, cada lembrança trazida, de olhos fechados e com o danado do sorriso ali, bem no cantinho direito da boca. Cobertor de lã aquecendo os pés e bem longe do rosto rubro, quente, que o vinho trouxe. A música toca mais uma vez, o coração se enche de novo e inquieto, salta do peito. As mãos, sem saber muito o que fazer, insistem num nervosismo, num suadouro, procurando onde repousar. O vinho, abusado, se mete a encher mais uma taça, até a boca, sem refino, sem bons modos. A risada alta atropela a sensação do que virá, no ar. O frio? Insistente, mais ainda do lado de fora da janela. O toque é próximo, a respiração que se escuta, os olhos que insistem em desviar do olhar. O perfume do incenso, que mesmo já apagado, insiste em permanecer no ar. O último gole, um bom vinho prestes a terminar. Um empurrão, um incentivo. Instante de silêncio até a próxima canção a ser escolhida e quase deixada de lado, esquecida. Adoração. Proximidade. Eternidade. Respiração. Mãos que se encontram. Lábios. Rosto. Coração.

Dia que passou, tarde que chegou, já foi embora e é ela noite. Sem ver, sem perceber. O Frio? Esse ficou de vez do lado de fora da janela.









domingo, 1 de junho de 2014

Estar



É tão linda essa leveza de ESTAR. Sem pensar em sou, em serei, ou um dia fui, simplesmente estar. Tem tanta vida por aqui. Embalada num papel de presente e ansiosa para a gente rasgar - tudo e com toda sede e vontade feito criança quando desfaz o embrulho, encantar. É brinquedo que se brinca se deixando sentir, é desfrute malandro de se deleitar, é sorrir com a brincadeira até morrer de rir, afrouxar. É entender a doçura do compartilhar, do trocar, do doar e, principalmente, do se doar. É deixar vir a brisa, o acontecer da chuva e sentir o temporal chegar. É saber estar com braços abertos, mas também abraçar. Acarinhar, mas também entender que é lindo poder pegar nas mãos, segurar. Ter a cabeça no céu, sentar numa nuvem, e  ver também a importância de ter um dos pés no chão, equilibrar. Enxergar a beleza da conectividade, da sintonia, da incrível sinergia que, se deixa, vai chegar. Vida é saborear, adoração, se lambuzar. É pedir o colo, e ali, aninhada, se aconchegar. Deixar vir o cuidado, o mimo e o calor, se entregar. É receber a ternura do abraço, e o abraço do sorriso, e o sorriso que vem do peito, genuíno, acarinhar. 

Porque vem simplesmente por vir. Porque chega porque tem que chegar. Por querer estar perto e de qualquer jeito ou em qualquer lugar. Pela simples beleza, não do ser, mas do querer estar sendo. E é lindo porque de qualquer jeito assim será.

E porque eu sinto assim. Apenas querer estar.




Arte: Nathalia Grill
  



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Criolo



Eu ainda não sei muito bem o que dizer sobre o show de Criolo que rolou ontem cá em Porto. E eu não sei porque acho que simplesmente fazia tempo que eu não ficava tão - completamente - entregue, seduzida e, ao mesmo tempo, apavorada com uma apresentação como a que vi. O cara não é ele, é além dele e muito mais. É outro, outros vários. Uma energia bem louca, vem di cum fôça, com tudo, e engole aquele palco inteirinho de uma só vez. É o Zé Pelintra, malandro, danado, que envolveu completa e lindamente uma platéia inteira, aos seus pés. Transe total e absoluto. Rubro, quente, batucado. É presença. Abraço, afago, sacode de corpo e lavagem de alma. Durou tanto e tão pouco ao mesmo tempo. Mas, intenso - no sentido mais literal da palavra. 


Artista completo, homem feito, energia transmutadora.



Obrigada pela noite de ontem! Eita, porra! <3>






* A foto incrível é da Nathalia Grill

terça-feira, 15 de abril de 2014

Evaporar




E quem é que sabe o que é evaporar? Evaporar-se?
Evaporar no sentido da água da chuva que cai e que faz elevar com aquele calorzinho do sol
Evaporar no sentido de não pertencer, deixar de ser matéria, ser sopro, farelinho no vento livre a voar, tornar-se pensamento
Evaporar no sentido de ser leve, flutuar
Sentir-se fora do chão, sentir o ar
Abrir os braços, se deixar embalar, sentir a nuvenzinha branca passando bem abaixo dos pés
É coração sorrindo escancarado, inflamando o peito, é levar a alma a passear
Tão fácil tocar aquela estrela, espia, é só se esticar
Suspirar, sentir a brisa leve, se atirar
Evaporar-se é sorrir por dentro, sair de si, transcender, elevar a alma, soltar o barbante que segura o coração inflado e deixar que ele vá, lá no alto, mais alto ainda, a perder de vista.
Evaporar é muito mais do que apenas ir. É sentir.